Sabe aquele post que você sabe que tem tudo para dar problema, então você opta entre adiar eternamente ou então postar e sair correndo? Eu adiei por quatro meses e agora vou postar e sair correndo.
Isso porque o conteúdo dele vai explicar por onde andei este ano e porque não teve post esse tempo todo. Antes disso, rola um disclaimer:
- Eu não sou nutricionista
- Eu não estou te indicando uma dieta
- Eu não acho que você deveria fazer o que eu fiz (ou deixar de fazer o que eu fiz)
- Eu não estou descobrindo a roda
Então para quê esse post está aqui, minha gente?
Simplesmente porque anda um pouco difícil cozinhar para este blog este ano, o que eu vou explicar mais tarde. E porque pode ter uma ou outra pessoa que vai super se identificar com a dieta que eu fiz e resolver fazer também.
Bom, torcendo muito para já ter me desculpado por antecedência com todas as pessoas que possam se ofender com esse post (afinal, estamos todos calejados com esse mundo das redes sociais, não estamos?), vamos ao que interessa.
10 quilos, 1 ano
Desde que eu emagreci, em dois 2017, eu tive: uma viagem para Londres (onde eu comi tudo o que podia e um pouco do que não podia também), uma viagem para a Disney com direito a um cruzeiro (que, deliberadamente, eu usei para comer sem culpa ou remorso) e um Copa na Cozinha, que me rendeu muitas receitas legais, muitos aprendizados e muitos, muitos quilos a mais. O resultado foi que eu engordei dez quilos em um ano.
Além disso, eu estava em um processo alérgico que já durava quase isso, com conjuntivite todas as noites, muita rinite, muita sinusite e uns dez médicos me mandando me livrar do meu cachorro (sinceramente, era muito mais fácil me convencer a me livrar do meu nariz, o cachorro não iria a lugar nenhum, queridos).
Em uma daquelas vibes que dão e não passam, eu comecei a folhear (digitalmente) o livro “30 dias para mudar – The Whole30“, que eu já tinha folheado inúmeras vezes na livraria, mas, sinceramente, nunca entendi sobre o que se tratava. Dessa vez eu entendi, comprei a versão digital na Amazon, e no dia seguinte já estava fazendo.
O que é a Whole 30
“Whole” vem do “integral”, em inglês, uma tentativa de te ensinar que a maior parte do que a gente anda comendo, que vem das gôndolas do supermercado, simplesmente não é nem comida, quanto mais “de verdade”. “30”, claro, vem de 30 dias – o prazo que a autora pede que você dê a essa dieta. Pode fazer mais tempo? Pode. Mas a intenção é dar uma desintoxicada de todas as porcarias que você anda comendo e, depois, reintroduzir tudo o que você tirou da sua vida para entender o que te fazia mal e o que pode continuar comendo. Ou, como ela bem diz, decidir que você já é adulto e vai continuar comendo o que te faz mal do mesmo jeito, mas pelo menos entendendo o que acontece. Afinal, se vinho tinto te dá dor de cabeça, de repente é melhor tomar DEPOIS da entrevista de emprego, e não na noite anterior.
Durante os trinta dias, você precisa fazer tudo o que a dieta manda sem pecar nenhum dia. Depois dos trinta dias, cada coisa que você tirou volta, com pausa de 2 dias entre eles para você esperar os “efeitos colaterais”. Pode ser que eles não existam. Pode ser que você só precisasse desintoxicar mesmo. Pode ser que você descubra uma alergia ou uma intolerância que nunca soube que teve. Pode ser que você tenha uma alergia temporária de tanta porcaria que você estava comendo. Cada corpo vai responder de uma forma.
O que não pode?
Basicamente, não pode:
- Álcool
- Grãos e cereais (arroz, feijão, lentilha, grão de bico, aveia, linhaça, trigo, etc)
- Laticínios
- Sulfitos, carragena, glutamato monossódico
- Açúcar ou similares (não vale mel, maple, aspartame, xilitol, agave, açúcar de coco e nenhuma substituição)
- Substituição de guloseimas que são gatilhos para você (pizza de couve flor, muffin low carb, panqueca de ovo com banana, etc)
- Se pesar ou se medir durante os 30 dias
Ou seja: não pode nada que seja industrializado, que altere a flora intestinal ou que possa causar alguma inflamação, por exemplo: feijão, lentilha e grão de bico podem causar desconforto abdominal dependendo de como foram feitos. Depois dos 30 dias, você pode voltar com eles (lavando e deixando de molho por pelo menos 24h e notando como você reage a eles, claro). A intenção é que você mude o jeito que come e lida com a comida, por isso, substituir o açúcar pelo mel não vai tirar a sua vontade de comer doce. Assim como substituir uma panqueca de trigo por outra de farinha de amêndoas também não vai tirar a panqueca da sua cabeça.
O que pode?
Frutas, vegetais, batatas, oleaginosas (exceto amendoim), carnes (exceto embutidos e carnes que sejam conservadas em açúcar ou aditivos) e a maior parte do que você encontra no hortifruti ou na feira do seu bairro.
São só 30 dias. Dá para sobreviver.
Achei muito importante ler o livro antes de começar, porque ele explica exatamente porque não pode uma coisa ou outra. O que você pode voltar a comer tranquilamente depois dos 30 dias e o que você deveria repensar daqui para a frente, além de uma lista enorme do que pode e não pode para quando tiver dúvida.
Importante: sair da dieta faz com que você volte ao dia 1.
O que acontece nesses 30 dias?
Muita coisa acontece. Você pode ter ressaca vinda da falta de açúcar. Você pode ficar cansado, letárgico ou elétrico. Eu anotei exatamente o que aconteceu durante todos os dias e manter essa lista foi super importante para entender o que estava mudando. Na primeira semana, por exemplo, eu parecia uma criança que tinha comido açúcar demais – extremamente elétrica e produtiva – esse período é chamado de “tiger blood”. Depois passou. Existe um calendário que diz as reações mais comuns:

Os dias 2 e 3 são tidos como os mais prováveis de uma ressaca; seguido pelos dias de TPM; nos dias 6 e 7 – sono; 8 e 9 podem apresentar um efeito rebote em que você sente que suas roupas estão mais apertadas; 10 e 11 são os dias mais difíceis, seguidos por aqueles em que você sonha com comida; a terceira semana é a da produtividade e eletricidade, até você lentamente se aproximar da reta final.
Eu tive os dias de sonhar com comida e os da eletricidade, mais nada.
Tá, mas emagreceu ou não emagreceu?
A ideia da dieta não é essa, e sim descobrir como você reage a cada comida com potencial inflamatório. Por isso vou deixar o suspense por mais tempo.
O que eu descobri com a dieta foi, para o meu desespero, que as minhas alergias eram alimentares. Por um lado, fiquei extremamente feliz pela Aurora, (o beagle, claro). Não que ela tivesse algum perigo de deixar o conforto do edredom, mas foi um alívio saber que ela não era causadora da minha sinusite.
Mas durante as quatro semanas, eu tive um total de ZERO alergias. Todos os sintomas que eu estava há meses sentindo e me tratando (com uma pilha de antialérgicos e vacinas semanais no alergista que culpava o cachorro, colírios e consultas de R$200) magicamente foram embora desde o primeiro dia.
Os dez dias seguintes foram de testes.
Primeiro, testei o açúcar, o mais facil de todos, né. Zero problemas.
Depois testei o glúten, com aquele pãozinho esperto. Zero problemas (a não ser aquela barriga de pão estufada que a gente conhece e não tinha mais saudades, né).
Grãos – tudo muito bom, tudo muito bem.
Álcool – seu lindo, nunca me decepcionou.
Aí eu passei na minha sorveteria preferida e comi aquele sorvete artesanal sabor leite. Rico, gordo, maravilhoso, uma bomba de leite puro. E uma hora mais tarde parecia que eu tinha um quilo de areia em cada um dos olhos. Nenhuma saudade daquela conjuntivite eterna desesperadora que durava três dias.
Mas eu sou brasileira e não desisto nunca. Esperei mais uns dias e testei novamente. E o resultado foi exatamente o mesmo.
Aurora me julgou com aquelas orelhas caídas em cima da montanha de pelos não culpada que ela solta todos os dias.
Tá, mas emagreceu ou não emagreceu?
Como eu disse, o sentido da dieta não é esse. Mas sim. Durante os primeiros 30 dias, eu perdi 4,5kg – 6cm de barriga e 2,5cm de coxa.
Como 99% do que eu queria comer depois da dieta era feito de leite, eu simplesmente não tive vontade de sair da dieta, e continuei por três meses com uma pequena pausa para comer (muito) chocolate durante a Páscoa (sim, deu alergia).
Depois de três meses, o resultado foi de exatamente 10 quilos (11cm de barriga e 5,5cm de coxa). Voltei ao meu peso original e, de quebra, descobri o que me fazia mal.
Antes que vocês me julguem demais, eu fiz um exame de sangue logo depois de dois meses de dieta. A glicose ainda está na marca do pênalti, embora não esteja alta demais. Todo o resto, incluindo a minha anemia e a minha leucopenia (com as quais eu convivo desde os doze anos) estão absolutamente controladas pela primeira vez na vida.
E agora, José?
Agora, eu estou aceitando receitas maravilhosas e divertidas de carne e frango (sim, eu comecei o ano diminuindo o consumo de carne e acabei chegando à metade dele aumentando drásticamente, o que é assunto para outra sessão de análise), e de acompanhamentos que não levem leite. Com isso, abandonei o Raiz de Gengibre e pensei até e fechar ele de vez, já que o meu ingrediente preferido estava temporariamente banido da minha vida (queijo, que saudade). Mas resisti bravamente e estou aqui. Às vezes. Só que menos.
Hoje eu deixo o queijo reservado principalmente para o dia da pizza, aquela linda, meu prato preferido da vida, que costuma valer as três noites consecutivas de conjuntivite, a caixa de antialérgicos e talvez de algo mais forte. Não vou gastar essa carta com aquele salgadinho ruim da padaria, né.
Ainda não fiz o exame de sangue para confirmar a alergia à proteína do leite (embora tudo indique eu tenha em algum nível) e também ainda não fui perguntar para um médico porque antes eu conseguir conviver “quase que de boas” com o queijo e agora eu não consigo mais. Cenas dos próximos capítulos.
Por enquanto, o que eu posso fazer por vocês é dar a receita de um bolo de caneca low carb que salvou a minha vida durante os dias de larica de doce. Mas atenção, isso aí só vale depois que seus trinta dias acabarem, afinal, é low carb, mas não é whole 30 (e agora eu presto atenção nessas coisas, né?).
Um bolo de caneca para vocês
Misture em uma caneca ou bowl que possa ir ao microondas:
- 1 ovo
- 1 colher de sopa de coco ralado sem açúcar
- 2 colheres de sopa de farinha de amêndoas
- 1 colher de sopa de óleo de coco
- 1 colher de sopa de cacau em pó
- 1/2 colher de sopa de xilitol (não pode durante os 30 dias)
- 1 colher de chá de fermento
- 1 colher de chá de leite de amendoas ou coco para dissolver esse fermento
É só misturar tudo e colocar no microondas – de 1,5 a 2 minutos, dependendo do seu microondas. Se você estiver com muita vontade de doce, joga aquele maple por cima (fora dos 30 dias, Brasil).
Só para lembrar…
Só para lembrar o que eu disse lá em cima, eu não sou nutricionista e nem estou te dando a ideia de fazer a mesma dieta que eu. Tanto é que eu não fiz aquela foto clássica de antes e depois (mentira, claro que fiz, mas não vou mostrar aqui para vocês). O objetivo aqui é só explicar uma ausência, a minha falta de receitas e dizer que, para mim, funcionou. Estou pronta para outro cruzeiro da Disney, com aquele antialérgico esperto separado.
O livro
Para quem quiser tirar a prova, ta aí aquele link esperto do livro na Amazon.
E esse é o site desse programa, em inglês, com algumas ideias, receitas e docs para baixar.
ATUALIZAÇÃO (06/10/2019)
Acabou que eu fiz o tal do teste para alergias, que constatou que eu tinha alergia a exatamente TUDO. Alergia a viver. Apesar de eu ser um constante caso House, achei pouco provável, né, Brasil? Depois de um tratamento para controlar o sistema imunológico, fiz outro teste mais controlado e que não deu positivo para leite. Ou seja, o mais provável até agora é que eu tenha alergia a histamina. Uma coisa semi-aleatória super legal que vai me deixar muito louca tentando saber o que eu posso e o que eu não posso. O que controla isso? Dieta. Para manter os níveis de histamina numa faixa segura. Infelizmente eu saí da Whole30, (e com ela voltaram TODAS as minhas alergias) mas eu juro que eu vou voltar!!