Pelo Rio: Seminário Rio Wine & Food Festival

A agenda está tão animada aqui pelo Rio que eu não estou dando conta dos posts. Mas não reclamo! Daqui a pouco começa a época das vacas magras de novo, e aí, já viu… Na última quarta-feira, usei minha folga do trabalho para participar do seminário Vinho e Mercado, parte do Rio Wine & Food Festival, que aconteceu na FGV. A entrada foi gratuita e, quem se inscreveu, recebeu uma edição especial da Revista BACO, que produziu o evento.

Representantes de vinícolas e de setores do mercado, como e-commerce, se reuniram para discutir, principalmente, o cenário em que se encontra o mercado do vinho brasileiro. Teve muita coisa boa, algumas discussões dispensáveis e muita preocupação com o setor cervejeiro, mas eu chego lá.

 

Baco

Sérgio Queiroz e Marcelo Copello foram os representantes da revista BACO, que, descobri na palestra, é um mundo muito maior do que eu imaginava. A revista é de muitíssima qualidade e tenta fugir do enochato, transformando o assunto em algo mais palatável.

Copello focou no mercado brasileiro que não para de crescer e que é um grande filão para quem souber aproveitar, mas para isso, as empresas ainda esbarram nos maiores problemas: a falta de conhecimento. Nós, brasileiros, somos muito empiristas, e gostamos do que já provamos.  A resposta, então, tem que ser eventos offtrade, provas e promoções. I drink to that.

 

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Ibravin

Ao contrário do que mostra na programação no fim da página, a representante da Ibravin foi a Andréia Milau, uma gaúcha que levou um monte de pesquisas da Ibravin para atualizar a gente de como anda o mercado. O crescimento dos espumantes brasileiros, a quantidade absurda de vinho de mesa que a gente ainda vende, em vez dos vinhos finos, e o quanto ainda tem para ser vendido, falta  só… vender! Foi bem interessante, mas não vou puxar os dados para cá. Eles estão disponíveis na Ibravin, para quem tiver curiosidade.

 

A.B.B.A

Não foi a vez da banda nórdica, mas da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas, representada por Adilson Júnior, que também é da Casa Flora. Ele falou muito (mas muito mesmo) sobre o medo de o vinho perder o mercado para a cerveja. Segundo pesquisas que ele mostrou, feitas nos Estados Unidos, o consumo da cerveja cresce com o aumento da renda per capita, mas depois diminui quando essa renda chega a US$ 22 mil, quando essas pessoas migrariam para o vinho.

Não concordei quando ele falou sobre o setor cervejeiro (“O cara não quer pensar, e pede uma cerveja”). Ele começou muito bem, dizendo que o mercado da cerveja tem crescido imensamente aqui no Brasil, não só com as cervejas tradicionais, mas com as mais caras, artesanais, ou seja, os compradores que aumentam o poder aquisitivo não migram, necessariamente para o vinho, mas também para a cerveja que eu chamo “de verdade”, a artesanal. Depois escorregou, dizendo que o vinho intimida tanto, com a presença do sommelier, os bouquets, os aromas, a enochatice, e tudo mais, que o consumidor, acuado, diz “Ahhh, me vê uma Brahma, então!”. Sem querer julgar as cervejas, não acho que seja esse o concorrente direto do vinho, até mesmo pelo preço. Primeiro, ele menospreza a complexidade da cerveja, como se ela, em si, não tivesse bouquet, aromas e “cervochatices” próprias – tem até sommelier próprio! Depois, menospreza o concorrente de verdade, que é a cerveja artesanal cara, e não a Brahma. Se não estudarem melhor esse mercado, os distribuidores de vinho vão continuar para trás.

 

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O. Fournier

Depois foi a vez de José Manuel Ortega, dono da vinícola O. Fournier. Foi um grande press kit, mas achei bem interessante, por um motivo: a vinícola O. Fournier começou um projeto chamado Wine Partners. Quem entrar na onda dele, vai poder elaborar o próprio vinho em Mendoza, em parte da vinícola do senhor Ortega. Tem todo um projeto meio “country club” envolvido, mas pareceu bem interessante para a encarnação em que eu nascer com dinheiro sobrando. I would. Se ficou curioso, dá uma olhada nesse vídeo, vale a pena.

Outra curiosidade: parte dos vinhos dele  também carrega nomes de estrelas, como as minhas Garten Biers!

 

Wine.com

Rogério Salume, presidente da Wine.com, mostrou ser um excelente palestrante. Mostrou bem como funciona a empresa e vendeu o seu produto muito bem. No fim, é para isso que estava lá, certo? Acho que o mais importante foi a visão que passou de uma jovialidade do vinho, de que é uma bebida divertida, e não sisuda como alguns outros palestrantes passaram, mesmo involuntariamente. Salume defendeu tanto o vinho branco e o espumante, que até parece que a Wine dá essa bola toda para ele, mas, como eu já disse antes, são poucos os brancos que chegam no ClubeW e na revista do Clube.

 

Almaviva

Depois do almoço eu já estava morta de cansaço. Foi a vez de Michel Friou contar sobre a vinícola Almaviva, uma joint venture “hispanofrancesa”, ou algo do tipo.

 

Salton

Luciana Salton contou histórias de família, mostrou o crescimento da Salton e, consequentemente, o crescimento do mercado brasileiro de espumantes, desde quando a vinícola ainda não se preocupava em fazer vinhos finos, acostumados que estávamos com o vinho de mesa, até uma mudança radical de visão do grupo.

 

Cave Geisse

Mario Geisse, da Cave Geisse, é, provavelmente, um dos caras mais importantes do setor vitivinícola brasileiro. E nem é brasileiro. Por isso, nem ligo quando ele aparece só para falar das vinícolas dele. Quando foi chamado para trabalhar na Chandon, Geisse chegou no Brasil como quem não quer nada e se apaixonou pelo terroir, encontrou aqui um jeito de fazer vinho que ele não conseguia no Chile. Era um terroir que produzia vinhos com baixo teor de açúcar e muita acidez. O que normalmente seria ruim para o vinho, foi ótimo para os espumantes e foi aí que Geisse fez a  festa, e hoje, a gente faz a festa junto com ele.

 

Em geral, o evento foi muito produtivo. Para quem me perguntou: não, não houve degustação e, sinceramente? Achei uma falha. Entendo que o assunto era o mercado do vinho. Mas vinho é uma coisa muito mais divertida do que slides e gráficos! Falar sobre vinho sem sombra de vinho, não me convence.

Outra discordância minha é quanto ao vinho tradicional, chato e preto e branco que algumas palestras mostraram. Na verdade, todos os produtores, distribuidores e palestrantes, com exceção do Salume, da Wine, foram extremamente tradicionalistas. Julgaram drinks com vinho, julgaram o vinho das massas, julgaram tudo que não fosse o vinho caro vendido pelo sommelier de terno em restaurantes que cobram R$ 60 de rolha. Mesmo quando eles estavam tentando defender tudo isso, falavam de modo que denunciava justamente o contrário. Isso é corporativismo demais, galera, vinho é muito mais legal que isso! Mais uma vez, ponto para o mercado da cerveja.

Só de birra (com o perdão do trocadilho), vou deixar uma receita de sangria aqui para vocês! Porque vinho tem que ser divertido.

 

 

Confiram a lista de palestrantes:

Seminário

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